Secretário de Saúde tenta impedir criação de CPI

O secretário municipal de Saúde, Sérgio Pimentel, acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de ser um dos líderes de fraudes em processos de licitação do órgão, tentou ontem, na Câmara Municipal de Belém, esvaziar a possibilidade de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as irregularidades em sua pasta. Ele queria ser ouvido pelos vereadores, mas seu plano não deu certo. Pelo contrário, acabou provocando pesadas críticas da oposição. Pimentel será interrogado na CPI, se ela de fato for instalada. Faltam três assinaturas para que isso ocorra.Para não ficar falando sozinho, o secretário rebateu com críticas a postura dos vereadores. Em uma sala, próximo ao plenário, antes de se retirar, ele destilou ironias sobre oposicionistas, dizendo que estava ali a convite do presidente Walter Arbage. “Vim aqui para esclarecer todas as dúvidas que os vereadores tiverem, não só em relação a este fato (fraudes), mas a qualquer fato sobre saúde”, disse Pimentel, alfinetando mais uma vez o MPF e sua “bola de cristal” para incriminá-lo com “acusações vazias”. Vereadores aliados do prefeito Duciomar Costa trocaram tapinhas nas costas e apertos de mão com o secretário, apoiando a iniciativa dele de comparecer à CMB.“Isso aqui não é um circo, nem eu sou ator de teatro”, reagiu da tribuna o vereador Fernando Dourado (DEM). “Há muitas irregularidades e é preciso apurar tudo e punir os responsáveis”, emendou o oposicionista Augusto Pantoja. Apenas seis vereadores aliados do prefeito estavam em plenário. Orlando Reis, líder do governo, se esgoelava para convencer os opositores a ouvir Pimentel. Pregou no deserto e acabou por desistir.O que chamou a atenção da imprensa, durante a sessão em que vereadores da situação e da oposição bateram boca sobre a CPI, que ainda não foi criada por faltar três assinaturas de relutantes vereadores do PT e do PMDB, foi uma espécie de dossiê contra alguns vereadores, relacionando-os com benefícios a assessores e parentes. O tal dossiê, cujas digitais apontam para aliados do prefeito Duciomar Costa e de seus homens de confiança na Sesma, causou revolta entre os atingidos.SÍNTESEO Ministério Público Federal denunciou criminalmente servidores municipais, entre os quais o diretor-geral da Sesma, Mailton Ferreira, e o secretário de Saúde, Sérgio Pimentel, além de empresários, por formação de quadrilha, fraude em licitações, peculato e falsidade ideológica. O MPF afirma que o esquema montado na Sesma fraudou duas licitações que somavam R$ 10,3 milhões em recursos federais.Prefeito vai usar “tropa” fielEmbora o presidente da Câmara, vereador Walter Arbage, tenha comunicado ao plenário o oferecimento do secretário, feito em ofício do prefeito Duciomar Costa, os vereadores oposicionistas não aceitaram ouvi-lo, sob o argumento de que o Poder Legislativo, cumprindo suas prerrogativas, é quem deve decidir como e quando quer ouvir qualquer auxiliar do Executivo. Os oposicionistas disseram que Pimentel deve ser ouvido, mas na CPI.Sahif Xerfan e Carlos Augusto foram os mais contundentes nas críticas a Pimentel afirmando que ele estaria querendo armar um circo com suas meias verdades, contando com a colaboração dos vereadores aliados. Carlos Augusto lembrou a entrevista do secretário à imprensa classificando-a de “vergonhosa”, uma vez que o secretário de Saúde, segundo o vereador, tenta “desqualificar o juiz e os promotores federais, chamando-os de incompetentes”.Augusto Pantoja salientou que a questão não é mais apenas jurídica, mas também “técnica e moral”. Denunciou que quase todos os auxiliares diretos de Duciomar hoje são proprietários de empresas. O prefeito soube que o plano havia fracassado antes que a sessão fosse encerrada. Ele agora vai chamar os vereadores fiéis às suas orientações para que resistam de qualquer maneira à instalação da CPI. (Diário do Pará)